Há 10 anos atrás, o presidente Lula modificava a LDB e inseria nos currículos da educação básica, os estudos obrigatórios de história e cultura africanas e afrobrasileiras.
Em 2004, oriunda do movimento político social, atrevi-me numa jornada na implementação da recém saída do berço, lei 10.639/03 no município de japeri.
Logicamente que nos amplos debates nos movimentos negros e sociopolíticos que frequentei nos anos 80-90, nunca deixamos de discutir estas questões Mas por onde ir? o que alcançar? simplesmente pesquisar referencias de Africa e inserir no currículo como uma coisa a mais a ser cumprida? Não nego, nem nunca poderei negar, que encontrei várias barreiras pela frente: uma delas, era a dificuldade de material para pesquisa. Esta, eu penso que foi superada, pois hoje 10 anos depois, com o advento do google e das várias excelentes publicações existentes no mercado, só fica por fora do assunto, quem assim o desejar.
Porém, a dificuldade da lei efetivamente acontecer no espaço escola, de tocar as pessoas, continua sendo a principal, senão a mais importante interferência na implementação.
Nestes anos de caminhada. e pela dificuldade inicial de material pedagógico pertinente, decidi que o mais importante na implementação era fomentar a discussão sobre o racismo. esta inclusive é hoje uma das correntes disseminadas nos meios de estudo do assunto.
Percebi que o sentimento de pertença ao tema era o minimo possível, e o pior, a curiosidade era ínfima.
Eu tinha grandes problemas pele frente. Poderiam dizer que seria fácil implantar a lei num município onde pelos dados do IBGE há mais de 60% de pretos e pardos.
Mas não foi. Não é.
Japeri é um município pobre com o menor índice de IDH do estado, um município de baixo IDEB,e onde quase 90% da população se reconhece como cristãos protestantes e compreendem erroneamente que o universo africano é apenas o da cosmovisão da religiosidade. Um universo dessacralizado, inferior, corruptível para todas as almas brancas cristãs.
Foi complicado, e ainda é.
Quando digo africanidades, não sei se esse seria o termo correto, estou falando de uma memoria coletiva de nossa ancestralidade. E é nisso que vem se transmutando o meu trabalho.
Discutir o racismo é imprescindível ainda mais porque é tão oculto, mas tão oculto, que as vezes, algumas pessoas acreditam que ele nem exista.
Mas agora, 10 anos depois, vejo que o que é imprescindível na implantação da lei é exatamente saber onde começa e termina a nossa herança cultural que nos faz identitários de uma memória que nos forma enquanto povo.
A herança europeia tem uma marca muito presença na nossa memoria, jmaginário, oralidade, pontos de vista, saberes e fazeres.
A herança indígena e negra é facilmente descartada como uma herança menor, sem significado e significância.
Carregamos o gene do descrédito da importância da nossa origem
Encontrei nesses 10 anos de jornada, alunos e professores que embora negros ou pardos, ou reconhecidamente mestiços, negavam-se a ser parte constitutiva dessa história.
Encontrei professores que mesmo com formação acadêmica zombavam dos aspectos culturais africanos como primitivos e/ou ultrapassados.
Encontrei gestores que se negaram a realizar projetos na semana da consciência negra, por exemplo, por se tratar de coisa de preto, então sem importância.
O resgate da memória, da formação, do imaginário, do sentimento de pertença da nossa ancestralidade, é o que me move dez anos depois.
Muitos projetos foram realizados, muitas falas foram ditas, materiais pedagógicos entregues, mas ainda sinto que estamos falando num território que nos impede de entrar.
Esses territórios , eminentemente humanos, ou se cobrem se vergonhe por ter a pele preta, ou negam o sangue de pretos e pretas que correm sinergicamente misturados nas nossas veias.
Em 2005, criei o Núcleo Étnico na Secretaria Educação de Japeri, promovi junto com meus pares 7 Semanas da Consciência Negra, escrevi e implementei tantos projetos, publiquei alguns artigos, viajei pelo Brasil participando de muitos seminários, incentivei professores e alunos na luta por uma educação pela vida, mas ainda sinto que há muito a ser feito.
Quando olho pra trás nesses 10 anos, vi que os passos dados para trás foram maiores que os dados para a frente.
É difícil falar de racismo com as pessoas.
É difícil falar de diferenças com as pessoas. Elas não entendem que as diferenças são ponto de partida, e não de chegada.
Existem pessoas que são sistemas fechados, presas em esteriótipos e paradigmas muito bem orquestrados pelos sistemas econômicos globais de vários séculos.
Vivemos ainda uma tímido avanço na implantação da lei 10 639/03. embora seja notável, o que todos andam produzindo e realizando ao longo destes dez anos
Em 2004, oriunda do movimento político social, atrevi-me numa jornada na implementação da recém saída do berço, lei 10.639/03 no município de japeri.
Logicamente que nos amplos debates nos movimentos negros e sociopolíticos que frequentei nos anos 80-90, nunca deixamos de discutir estas questões Mas por onde ir? o que alcançar? simplesmente pesquisar referencias de Africa e inserir no currículo como uma coisa a mais a ser cumprida? Não nego, nem nunca poderei negar, que encontrei várias barreiras pela frente: uma delas, era a dificuldade de material para pesquisa. Esta, eu penso que foi superada, pois hoje 10 anos depois, com o advento do google e das várias excelentes publicações existentes no mercado, só fica por fora do assunto, quem assim o desejar.
Porém, a dificuldade da lei efetivamente acontecer no espaço escola, de tocar as pessoas, continua sendo a principal, senão a mais importante interferência na implementação.
Nestes anos de caminhada. e pela dificuldade inicial de material pedagógico pertinente, decidi que o mais importante na implementação era fomentar a discussão sobre o racismo. esta inclusive é hoje uma das correntes disseminadas nos meios de estudo do assunto.
Percebi que o sentimento de pertença ao tema era o minimo possível, e o pior, a curiosidade era ínfima.
Eu tinha grandes problemas pele frente. Poderiam dizer que seria fácil implantar a lei num município onde pelos dados do IBGE há mais de 60% de pretos e pardos.
Mas não foi. Não é.
Japeri é um município pobre com o menor índice de IDH do estado, um município de baixo IDEB,e onde quase 90% da população se reconhece como cristãos protestantes e compreendem erroneamente que o universo africano é apenas o da cosmovisão da religiosidade. Um universo dessacralizado, inferior, corruptível para todas as almas brancas cristãs.
Foi complicado, e ainda é.
Quando digo africanidades, não sei se esse seria o termo correto, estou falando de uma memoria coletiva de nossa ancestralidade. E é nisso que vem se transmutando o meu trabalho.
Discutir o racismo é imprescindível ainda mais porque é tão oculto, mas tão oculto, que as vezes, algumas pessoas acreditam que ele nem exista.
Mas agora, 10 anos depois, vejo que o que é imprescindível na implantação da lei é exatamente saber onde começa e termina a nossa herança cultural que nos faz identitários de uma memória que nos forma enquanto povo.
A herança europeia tem uma marca muito presença na nossa memoria, jmaginário, oralidade, pontos de vista, saberes e fazeres.
A herança indígena e negra é facilmente descartada como uma herança menor, sem significado e significância.
Carregamos o gene do descrédito da importância da nossa origem
Encontrei nesses 10 anos de jornada, alunos e professores que embora negros ou pardos, ou reconhecidamente mestiços, negavam-se a ser parte constitutiva dessa história.
Encontrei professores que mesmo com formação acadêmica zombavam dos aspectos culturais africanos como primitivos e/ou ultrapassados.
Encontrei gestores que se negaram a realizar projetos na semana da consciência negra, por exemplo, por se tratar de coisa de preto, então sem importância.
O resgate da memória, da formação, do imaginário, do sentimento de pertença da nossa ancestralidade, é o que me move dez anos depois.
Muitos projetos foram realizados, muitas falas foram ditas, materiais pedagógicos entregues, mas ainda sinto que estamos falando num território que nos impede de entrar.
Esses territórios , eminentemente humanos, ou se cobrem se vergonhe por ter a pele preta, ou negam o sangue de pretos e pretas que correm sinergicamente misturados nas nossas veias.
Em 2005, criei o Núcleo Étnico na Secretaria Educação de Japeri, promovi junto com meus pares 7 Semanas da Consciência Negra, escrevi e implementei tantos projetos, publiquei alguns artigos, viajei pelo Brasil participando de muitos seminários, incentivei professores e alunos na luta por uma educação pela vida, mas ainda sinto que há muito a ser feito.
Quando olho pra trás nesses 10 anos, vi que os passos dados para trás foram maiores que os dados para a frente.
É difícil falar de racismo com as pessoas.
É difícil falar de diferenças com as pessoas. Elas não entendem que as diferenças são ponto de partida, e não de chegada.
Existem pessoas que são sistemas fechados, presas em esteriótipos e paradigmas muito bem orquestrados pelos sistemas econômicos globais de vários séculos.
Vivemos ainda uma tímido avanço na implantação da lei 10 639/03. embora seja notável, o que todos andam produzindo e realizando ao longo destes dez anos
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